segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Alice

Ela andava fazia algum tempo, não tinha destino algum, nem sabia o por que andava. Mas assim continuava. Até que seu corpo pedindo por descanso parou. Sentou em uma sombra de choupo e ali contemplou a paisagem. Perdeu-se em pensamentos, não achava respostas para tudo o que havia em sua cabeça.
Não sabia o por que de tanto transtorno e aborrecimento.
Naquele momento como se num passe de mágica o mundo começou a dar voltas e mais voltas em sua cabeça. Ela tentava reagir e nada acontecia, viu areias de praias brancas de cegar os olhos. Logo o escuro a dominou, tudo parecia sombrio e assustador, não conseguia sair dali, alguma coisa a prendia e a puxava para aquilo.
Depois de um tempo ela se sentou, como se alguém lhe estendesse a mão e a coloca-se de volta a vida. Olhou a paisagem, era tudo tão verde e claro que o que passou de fato passou, novamente não sabia explicar nada.
Voltou a andar, precisa de água. Precisava de muita coisa, mas primeiro ia se preocupar em manter-se viva, não achava água. Desistiu e parou, sua vista estava cansada, fechou os olhos como se tentasse olhar dentro de si para dar fim aquela agonia.
O corpo dela estava podre, e o fedor era tanto que ela vomitou. Jogou pra fora álcool, cigarro, tempo perdido, amores que não deram certos, homens que entraram e saíram ao mesmo tempo, inveja, trabalho demais, comida demais, barulho, mentira, solidão, multidão, sujeira.
Era tanta podridão que ela quis morrer. Deitou e olhou para céu. Estava de um azul de sua infância, lembrou-se da rua que andou, conversas amistosas, beijos sem malicias. Constatou que nada daquilo teria retorno, que apenas era uma nostalgia passageira.
Continuou a andar. Estava leve, sóbria, muito do que atrapalhava havia ido embora. Olhou atrás, quis voltar, mas faltou-lhe coragem. Ia dar fim aquilo, não queria viver mais.
Lá bem longe, onde tudo era calmo e de lá um dia ela saiu. Havia pessoas que a amavam e esperavam. Sempre olhando na janela, na porta, no correio. Em busca de algo que fosse a seu respeito. Nada chegava.
Até que um dia, uma pessoa adentrou a casa, e perguntou se ali morou uma menina de nome Alice. Responderam que sim. A pessoa abaixou a cabeça e sem coragem de olhar nos olhos de tristeza daquela senhora disse: “encontraram uma moça morta e que se chamava Alice, deve ser da senhora”. Entregou os documentos da menina, e foi embora.
A senhora sentou-se e olhou em volta. Ali estavam retratos de Alice, coisas de Alice. Vícios de Alice. Alice ali estava e não estava. Por muito tempo a mãe chorou, e aos pouco começou a tirar Alice dali.
Alice, não mais existe. Quem lembra de Alice?

9 comentários:

Pedro Antunes disse...

fabiano!!!
q lindo teu texto!!
triste, mas lindo! ^^
tu escreve mto bem, sabes?
gostei msmo! parabéns!! xD

maria disse...

gostei desse :D

Athos Santos disse...

massa....
verdade...a pessoa depois que morre é a mesma coisa de nunca ter existido!!!
é triste..mais é a mais pura realidade da vida!!
é como mamae fala..quem morreu nunca viveu!!!
=/

abraçao!!!

B. disse...

Only this: Bravo!!!

Luna F. disse...

Estupendo !

Magnifico !

Anônimo disse...

Fabiano, tendo eu lido "Alice no País das Maravilhas" - e que por sinal gostei muito- , sinto um pouco do cheiro da obra de Lewis Carrol na essência do texto "Alice". E percebo algo um tanto quanto fatídico mas absurdamente existencial. Um absurdo camusiano, de que as coisas só têm sentido quando alguém morre ou está doente. Vejo algo de expurgo, um mundo que se nega pra fora e não para dentro. É pessoal, único, mas a intertextualidade com a obra máxima de Carrol feita aqui, provoca-me um quê de nostalgia paradoxal. Um fim sem começo. Há uma dor no texto, e essa sensação ritmada por um toque lânguido de sinceridade provoca, mas sem deixar culpa, a alma que nos abandona.

Luc disse...

gostei! bastante.

um texto altamente visual, desses que a gente lê e se coloca em um lugar que existe em nossa mente e nem fazemos idéia.

parabéns! belo blog.

porque, é um bom porque! disse...

sua figura fez perder-me em devaneios :D
:**

Anônimo disse...

Lembrei de uma frase que estava no muro de uma escola.
"Alice,calice de um gole somente."
Amei o texto,querido.